quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Pequeninos, mesmo


Ontem, quando comprava uma prenda no El Corte Inglés, a funcionária que me atendia achou de contar a sua triste sina de jovem desesperada, frustrada, desencantada. Com 32 anos, uma licenciatura em arquitectura e um filho de 3 anos, estava num dos muito balcões dos grandes armazéns a fazer embrulhos. O horário é continuo e muda todas as semanas: uma das 10h às 19h e outra das 15h às 22h. A moça, divorciada, deixa o filho com a mãe, que tem ainda a seu cargo um marido com alzeihmer. Ana é divorciada e não podia dar-se ao luxo de recusar um "emprego", quando o mesmo surgiu. Perante o meu silêncio, disse que não incentiva nenhum jovem a ir para a universidade. "Para quê? Para trabalhar nisto?". Ana não tem tempo para o filho, que convive com um avô que "voltou a ser bebé". As contas fervem e nada de creches, nem de luxos parecidos. Esta moça é o retrato actual do nosso país: quase sem esperança. Resta emigrar, disse-me. No mesmo dia em que ouvi estas palavras li no DN que muitos enfermeiros (jovens e não só) estavam a ser recrutados para hospitais ingleses. Em troca, um salário de 1500€. Em Portugal ganhavam 1000€. Pergunto: com o nível de vida britânico o que são 1500€? Eles, no entanto, mostravam-se contentes.
Só uma pequena coisinha: quando se entrevista um primeiro-ministro ou Presidente da República não se deveria fazer uma perguntinha sobre estes factos tão reais, tão desanimadores, tão pequeninos? Seria, decerto, mais importante que saber o que pensam do Manuel Alegre, do Estatuto dos Açores ou da "cooperação estratégica".

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