sábado, 1 de novembro de 2008

Pão-por-Deus

Era um clássico. O dia de Todos-os-Santos era para mim uma data especial. O feriado sabia bem. Eu e a minha irmã, mais velha e mais expedita, com a antecedência recomendada, pedíamos à mãe que não se esquecesse de fazer os saquinhos de pano para o "dia de pão-por-Deus". Até aos 10/11 anos não havia volta a dar: a nossa mãe dava ao pedal da máquina de costura Singer, com tampo de madeira e estrutura verde. Os saquinhos eram-nos dados a 1 de Novembro e lá íamos nós (eu atrás, porque era acanhado) bater à porta das vizinhas, repetindo, vezes sem conta a mesma ladaínha: "Pão-por-Deus". Entre um sorriso e a bonomia que marcavam aquelas velhas - católicas praticantes - lá vinha um pêro, nozes, castanhas e rebuçados. Nós ficávamos contentes. O sabor daquelas iguarias era especial. Tinha o sabor da "galinha da vizinha". Lembro-me que era a partir desse dia que lá em casa a mãe cozia castanhas com erva doce. Uma autêntica bomba para os intestinos e fazedoras de gazes intermináveis. Na Madeira, não me lembro de andarem a assar castanhas na rua. O dia de pão-por-Deus era mesmo em casa, normalmente com chuva a acompanhar.

Sem comentários:

Contador

Hit Counters