sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Espelho

Finais de Setembro ou inícios de Outubro. 1995. Campanha para as legislativas que consagraram Guterres. Fui a Aveiro entrevistar o cabeça-de-lista do PSD pelo distrito. José Pacheco Pereira. Era alguém que a classe jornalística não nutria especial simpatia, devido às posições públicas que tomava contra a profissão, utilizando ao mesmo tempo os jornais para difundir as suas análises e comentários. Na mente de todos nós ainda estava a famigerada proposta que fez ao Parlamento de vedar os Passos Perdidos aos jornalistas. Uma batalha em que ele não se saíu bem. JPP era um reconhecido intelectual, com obra publicada, mas era um homem distante, um quase "bicho" tímido, que resvalava alguma arrogância e que sabia "jogar" com a Imprensa que mais lhe interessava. Lembro-me de um colega do DN que trocava muitas palavras com ele. Mas essa era quase uma excepção. JPP era escorregadio. Julgo que, sem querer, considerava-nos, jornalistas, uma cambada de imbecis ignorantes. Malta que corria atrás de "sangue". Posso dizer que, nessa altura, ainda se fazia jornalismo a sério em muitas redacções. Mas JPP era crítico feroz, inteligente. Mas voltemos a Aveiro. O quartel general do PSD estava montado num hotel da cidade e eu, sempre muito certinho nos horários, lá apareci à hora marcada. Tive dificuldade em encontrar JPP, mas quando o abordei apercebi-me que ele já não queria dar a entrevista, que deveria ser publicada no DN Madeira. Em campanha dizer o que pensava (e pensa) sobre Jardim, não era o mais aconselhável. E eu tinha que focar essa questão, até porque, volta não volta, os dois trocavam "mimos". Sentei-me num corredor do hotel vendo JPP a passar apressadamente de um lado para o outro, sem me ligar nenhuma. Estava farto e quase a sair, mas...após uma última insistência ele, do alto da sua arrogância tímida disse-me o que eu odeio ouvir: "Então diga lá o que quer, mas tem de ser rápido". A entrevista foi a possível, sem questões sobre Jardim. Sensaborona. E ele da mesma forma que surgui, desapareceu sem sequer se despedir. Levantou-se e seguiu. Estive uns anos valentes que não o podia ver. Não o lia e só o ouvia quando havia tema interessante no "Flashback" (TSF/SIC). JPP também tinha um "comportamento" quando estava dentro do PSD (mais aparelhístico) que agora não tem. As suas teorias políticas são interessantes, mas ainda gostava de o ver de novo no activo. Seria interessante! (Vide entrevista hoje no Diário Económico).

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