Em 1993, era eu um principiante nas lides jornalísticas, atrevi-me a propor ao meu chefe de redacção, Henrique Correia (DN-Madeira) fazer um trabalho, a publicar na revista de Domingo, sobre o outro lado de Alberto João Jardim. Tinha curiosidade e sabia que os leitores também tinham, por saber mais do homem. Do político, buçal, trauliteiro, inteligente e inconveniente já se tinha escrito rios de tinta. Aliás, ele continua a por-se a jeito. Mas eu, no auge da minha força jornalística entendi que isso não importava e que era oportuno conhecer o Jardim pessoal, o homem com família, com sentimentos. Ele aceitou o repto, mas não me abriu as portas da sua velha casa da "Pena", da sua intimidade, dos filhos e da mulher. Falou muito em off sobre as angústias de um pai ausente, que almoça sozinho, que, apesar do séquito que o segue, sente solidão, falou-me dos ralhetes que a mãe, entretanto falecida, ainda lhe dava no dia da semana em que almoçavam juntos. E mais não digo porque o segredo profissional ainda se impõe. Mas o que denotei de Jardim é que ele falou de coração aberto, de sentimentos, de agruras, de lições de vida, como simples mortal. Algumas vezes as lágrimas encheram-lhe os olhos e a voz embargou-se. O político tinha saído. À mesa de um café na Ribeira Brava e à minha frente estava o tão famigerado Alberto João a revelar-me os seus medos. No fim e em jeito de conselho disse-me mais ou menos isto: "tomar decisões não é fácil, pior ainda se atingirem pessoas de quem gostamos, mas quando as tomamos não devemos recuar, voltar atrás...e deve ser assim também na nossa vida pessoal". Naquele momento esqueci o que me afastava ideologicamente daquele homem. Por instantes uma certa candura envolveu-me. Diga-se o que se disser e fazendo um paralelismo sem paralelo, José Sócrates nunca conseguiria fazer isso, despojar-se. Os animais políticos começam a escassear... emergindo os políticos de "plástico", articulados, sem ponta de carisma. Para pena de todos.
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